domingo, 5 de julho de 2009

Gasturas ordinárias

À mesa com Monteiro Lobato? Francamente... cada coisa com a qual a gente se depara...

Sem desmerecer aqui a preciosa obra de um dos nossos maiores escritores. Longe disso. Mais longe ainda do que querer me parecer com o Nick Olivieri, principalmente no que diz respeito aos trajes (ou ausência de) usados para as performances. Ai... Michael Philip jagger e o auge da sua androginia... se sentindo tão gay de tanta gayzice...

Deveria ser um tanto quanto esquizóide sentar-se à mesa de jantar (ou almoço, dependendo da posição do meridiano) cara a cara com Monteiro Lobato. Aquela sobrancelha, aquele bigode, aquela orelha, aquele mau hálito...

E, pior ainda, imagina se, nessa refeição hipotética, foi ele quem sugeriu o cardápio? Tem idéia do que pode nos esperar? No mínimo deve ser algo como ensopadinho de petróleo, carne suína assada e milho. Ou ainda arroz, feijão, carne e professor de física do Colégio pedro II.

Aí tá, inicia-se a refeição. Está você (aquele "você" hipotético que tanto irrita alguns de nossos professores de Língua Portuguesa) lá cortando o seu porquinho assado quando o Lô começa com uma série de elocubrações, verdadeiros ensaios literários, disparados pelo seu bacamarte bucal com uma velocidade vertiginosa. "Eureka!", diria você. "Agra eu sei como seria conversar (ou melhor, ceder os ouvidos) com George Orwell em plena fase de gestação do seu inolvidável romance 1984!"

Você lá comendo e o Lô disparado, falando pelos cotovelos. Aí você percebe que em certos quesitos a boneca (de pano, não de Olinda) Emília é uma (ou um? Vais de Said Ali ou de Evanildo Bechara?) personagem parcialmente autobiográfica. Não fosse o seu companheiro de mesa personalidade tão ilustre, certamente você já teria vociferado, plantado os cinco dedos da sua mão direita na fase magra/quase eqüina dele e transformado um sossegado banquete em uma autêntica briga de rua, com palavrões proletários e tudo o mais. A impressão que dá é a de que assim se segue uma refeição de Monteiro Lobato: uma garfada, meia hora de falatório, mais uma garfada, e assim sucessivamente. Se uma pessoa dessas toma café da manhã, almoça, faz um lanchinho e janta, então ele devia passar a maior parte do seu dia sentado na mesa da cozinha, só esperano o próximo prato.

E mais desagradável ainda, imagine, seria o seu susto se, ao final da tão prolongada e exaustiva refeição, o Lô confessa que não abre mão da sua sobremesa de manga, a qual (para mais tristeza ainda de tua parte) ele faz questão de comer com talher e guardanapo. E dá-lhe mais uma hora! E o cafezinho depois, lógico. Esse provavelmente estará gelado em seus últimos goles.

E na hora de ir embora, quando todos se levantam da mesa, você percebe que Lô, bem à vontade devido ao fato de estar em sua própria casa, estava esse tempo todo trajando um shortinho de nylon Silze, com as duas raquetezinhas desenhadas na lateral e tudo.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

leonel

Os anos de trabalho naquela empresa nem tão vital assim foram se passando, e em contrapartida a paciência de nosso personagem (ou a personagem? Said Ali!)foi ficando cada vez mais curta. Curtíssima, aliás, como aquela famosa canção do Módulo 1000. Quem quer ver as imagens? Tens certeza do que estás me mostrando?

Era um tal de cliente metido a macho, cuspindo grosso e segurando pra não botar as mãos nas cadeiras ao reclamar da demora para ser atendido, entre outras questões menores, do plano terreno. E o tal curtíssimo ali, tendo que aturar. Logo ele, que não tinha nada a ver com o assunto, Nem trabalhava naquele setor. Aliás, ele nem trabalhava lidando com o público. E ele lá, aturando o filhote de Clint Eastwoood.

E o cliente reclamou, reclamou e reclamou. E depois, só para variar, reclamou mais um pouco. Depois de um sem fim de lamúrias, o clinte (de Clint Eastwood, reparem) virou-se de costas para o curtíssimo, para observar uma coisa qualquer que fosse. Nessa hora, curtíssimo deixou levar-se pelo impulso e deu a língua para o clinte, numa atitude carregada de uma deliciosa gaiatice juvenil. Mas essa gaiatice não passou despercebida por clinte, que na mesma hora voltou-se para o curtíssimo.

O resto é estória. Os dois olhares (um de mel, e o outro com algo de esverdeado)encontraram-se (seria mais correto, nessa situação, dizer que chocaram-se) e aí vocês podem bem imaginar o que aconteceu. E podem ter certeza de que não temos aqui o início de um belo caso de amor entre iguais.

terça-feira, 30 de junho de 2009

o Roger Waters era muito feio

Imagine a cena, a situação.

Nóbrega estava sentado no banco da praça lendo o seu jornal, quando de repente, por descuido, o seu celular cai do bolso de sua calça semi baggy. Automaticamente, ao ouvir o barulho, ele olha para baixo, e ao ver o seu telefone móvel caído no chão estica-se como pode para reavê-lo. Porém, uma voz exclama:

- Não precisa se preocupar, deixa que eu pego.

Logo ele percebe que o dono da tal voz é um rapaz de garboso trajar (gabardine, por sinal)e maneiras muito polidas. Ou seja, um tipo acima de quaisquer suspeitas que sejam. Nóbrega sente até um certo alívio, pois do jeito que esta cidade anda...

Mas a sua alegria e o seu alívio pouco duram. O citado rapaz, ágil como um gato (embora logo percebamos que trata-se na verdade de um gatuno, quiçá uma ratazana em disfarces), pegou o aparelho móvel do senhor Nóbrega e, andando tranqüilamente, passou reto por ele, sem devolver-lhe o seu bem. indignado, Nóbrega logo reclama:

- Ei, não devolver-me-ás o aparelho de telefonia móvel? agora fiquei de fato pasmo! Falaste com tanta polidez para eu deixar que pegasses!

- Ué, e foi o que eu fiz. Não fui incoerente em momento algum. Eu disse que iria pegar o seu aparelho de telefonia móvel, e foi o que fiz.

- Ah, um ladrãozinho, é? Vou chamar aquele policial ali! Guarda Juju!!

O nobre paladino urbano não se fez de rogado e partiu à caça do bandidinho. montou no seu patinete motorizado, novo acessório gentilmente cedido pela Polícia da cidade. Mas, para infelicidade de todos (a não ser do bandido), o mobilete do guarda Juju bateu no mobilete de um outro policial que estava na praça, e ali terminou a perseguição.

Lamentável, pois a distãncia do bandido era tão ínfima que em poucos minutos os policiais o pegariam.

(baseado em fatos reais)

quinta-feira, 28 de maio de 2009

geadas da serra

Fui convidado a fazer uma visita ao apartamento do casal caretinha. E, acreditem se quiser, eu fui! Da mesma forma que George harrison começou a ir aos autódromos assistir às corridas de Fórmula Um depois que ele saiu dos Beatles. Porém tenho certeza de que George o fazia com mais alegria do que eu fiz ao ir à casa do já citado casal.

Cheguei na hora marcada, cravadinha, como bom sujeito pontual que sou. Convidaram-me para um almoço, então cheguei às doze e trinta, confrme o marcado. Chegando perto do apartamento comecei a ouvir música, muito embora não soasse exatamente como música aos meus ouvidos, e logo veremos por que.

Toquei a campainha e logo fui recebido com muita alegria pelo Caretinha. Ele estava de calça jeans, para dar um ar mais informal ao encontro. mas aquelas calças jeans bem caretas, quase na altura do umbigo, com a camisa polo por dentro da tal claça, e adornado com um cintinho de couro trançado. Preciso dizer que o Caretinha usava um cavanhaque? E, dito e feito, eu logo reparei uma etiqueta dependurada na calça baggy do Caretinha. Muy provavelmente ele deve ter comprado às pressas, para não fazer feio diante da visita tão despojada.

A tal música citada era nada mais nada menos do que Stanley Jordan, vejam vocês. Fiquei com medo de que ele resolvesse atacar de Al Jarreau, ou talvez Quincy Jones, vai saber? Depois, pra "pesar" um pouco mais o ambiente, ele botou um disco do Sixpence None the Richer, ou Couting Crows, ou qualquer um desses matchbox 20's e marron fives da vida.

Depois do almoço, como já era de se esperar, foi servida sobremesa de manga com talher e guardanapo. Se estava uma delícia? Claro que não.

A sorte deles é que eu não sou das pessoas mais antipáticas e desagradáveis. Se fosse algum outro seria capaz de ocorrer o seguinte diálogo na mesa de jantar:

_ Gostas de blues?
_Não.
_Gostas de Jazz?
_Não.
_De country and western?
_Não.
_Então do que gostas?
_Do mal fadado punk rock.

terça-feira, 19 de maio de 2009

fá-lo-á porque quererá

O doutor Jairo Almeida está aqui para esclarecer algumas dúvidas sobre esse terrível mal, o Colesterol. O que é? Como ataca o nosso organismo? Seguem abaixo alguns questionamentos que as pessoas costumam fazer em relação a isso:

- O Colesterol é transmitido através de picadura de mosquitos?

- Quimioterapia é uma solução eficaz contra o colesterol?

- O vírus do colesterol consegue se proliferar em temperaturas extremamente baixas?

- O Colesterol é transmitido através de fungos?

- O uso correto do preservativo é uma boa maneira de se prevenir contra o Colesterol?

- Freddie mercury e Mauro Facio Gonçalvez têm em comum o fato de terem morrido de Colesterol?

- Lavar bem as frutas e verduras antes de comê-las diminui de forma sensível a quantidade de colesteróis nesses alimentos?

- No caso de uma explosão do Colesterol teremos que sair às ruas com as faces protegidas por máscaras, como ocorre vez por outra na Cidade do México?

- O grupo de risco, smpre citado quando falamos sobre o Colesterol, é um mito?

- A troca do sangue pode eliminar por completo o vírus do Colesterol?

- Quais drogas podem aumentar o risco de contrairmos o Colesterol?

- Comprimidos, pomadas ou xaropes? Qual o melhor remédio para cuidar do Colesterol?

domingo, 17 de maio de 2009

portuários

Todo dia eu saía pra trabalhar, e lá pelas 8 e poucas da manhã eu passava pelo botequim que fica a poucos quarteirões da minha casa, onde eu visualizava já uma pequena turma com o copo em mãos. Quando eu voltava do trabalho e obrigatoriamente passava em frente a esse mesmo recinto, por volta de umas 12 horas depois, o movimento já estava mais intenso, mas notava que aquela mesma turma que eu via de manhã permanecia ali, quase que em sua totalidade.

A princípio isso me intrigava. Eu tentava imaginar como é que essas pessoas conseguiam levar tal estilo de vida. E o pior, de domingo a domingo. A qualquer dia e hora que eu passasse por lá encontraria aquela mesma turma. Podia mudar até o atendente, mas a velha turma nunca. Jamais.

Com o passar dos dias essa intriga foi transformando-se em inveja. Aí toda vez que eu passava por lá, principalmente quando eu estava a caminho do abate - quer dizer, do trabalho - e eu via aqueles desocupados com o semblante inchado e marejado eu automaticamente pensava de mim para mim: "Eu é que queria ter essa boa vida. Passar o dia inteiro fazendo o que gosto, e esquecendo-me dos meus problemas e de toda a humanidade em geral. E pra ficar todo dia assim provavelmente esses safados devem ser sustentados por alguém. No caso dos mais novos, que não devem ser aposentados, devem ter uma esposa iludida que dá um duro danado pra pagar o aperitivo desses indolentes..."

Numa manhã de segunda-feira, ao passar pela enésima vez por aquele botequim no meu trabalho, deu-me algo na cabeça e resolvi parar naquele bar. Encontrei um espaço entre aqueles corpos que pareciam estar plantados ali há dias e solicitei uma Skol. O toque elegante e curioso desse meu pedido é que fazia muitos anos que eu não botava uma gota de álcool na boca. O atendente deve ter estranhado o contraste entre a minha figura, com roupa limpa e bem passada e os cabelos recém-lavados esculpidos por uma fina camada de gomalina, e a figura daqueles corpos em tal estado que só eram conservados pelas injeçõs (via oral) homéricas de álcool etílico.

Aqueles que pensam que eu me limitei a uma única Skol e depois segui o meu caminho rotineiro para a lida estão redondamente enganados. Já os que intuiram que uma Skol puoxu a outra que puxou a outra, e assim sucessivamente, estão e... eeeê, São Paulo... ê, São Paulo... exatos!! Só me levantei daquele banco depois que o Sol havia se posto. Na verdade horas depois desse fenômeno natural. Lá pras nove da noite levantei-me, sabe-se lá com que forças, e encaminhei-me para a minha residência, parecendo uma garrafa de Velho Barreiro ambulante. Vale ressaltar que a minha degustação etílica não restringiu-se somente às cervejinhas. Aventurei-me também por outras sortes de traçados e licores.

E assim foi nos dois dias seguintes. Como eu não tenho a mesma resistência física dos meus "colegas" de balcão não pude agüentar essa bebedeira por muito tempo. E não demorou para que eu pagasse um preço muito alto por essa imprudência. Tal qual um River phoenix (se é que é assim que se escreve). Com a diferença de que um apaixonado Milton nascimento não fez nenhuma canção de lamento para mim. Vendo a coisa por esse prisma, graça a Deus.

E terminei a minha anedota tal qual uma cerveja: gelado e em cima de uma mesa.

sexta-feira, 8 de maio de 2009

aquatarkus

Fui ao armazém comprar alguns víveres, entre eles um quilograma de chã. Quando cheguei no setor de carnes e fiz esse pedido fui surpreendido pela seguinte declaração do açougueiro:

- Só chá? Sem o patinho e o lagarto? Olha, rapaz, é a primeira vez em quase vintes anos como açougueiro que alguém me faz um pedido desses. Eu nem sei se temos autorização pra vender o chã separadamente. lha, você fique onde está, não saia daí, que vou correndinho chamar o gerente. Não sai daí.

Fiquei surpreendido. Afinal, o que havia de tão incomum em pedir um quilo de chã? Enquanto o gerente do armazém não chegava me distraí namorando uma bela peça de picanha que estava pendurada na vitrine. no meio desse flerte chega o tal do gerente. Faz cara de surpreso, chega mudou de cor com o relato do açougueiro sobre o meu pedido, e me respondeu bem assim:

- O senhor me perdôe, mas infelizmente só podemos vender o chã junto com o patinho e o lagarto. São as normas do recinto e não podemos mudar. É uma cláusula pétrea do nosso estatuto. E pode reclamar à vontade. Preferimos perder um cliente do que queimar eternamente no fogo do Inferno.

Não me contive com a audácia. Se ele tivesse simplesmente que não podia por causa da norma, tudo bem. Eu ficaria contrariado, lógico, mas compreenderia. Mas a forma como aquilo foi dito realmente me deixou irado. Saí de lá dirigindo altos palavrões proletários para o tal gerente, e encaminhei-me para o açougue da rua, à distância de um único quarteirão.

Fiquei surpreso ao receber a mesma resposta. Mas o açougueiro pelo menos foi mais gentil ao me responder:

- Oh, meu querido, infelizmente não podemos fazer a venda de uma dessas espécies de carne separadamente. Até porque, que graça teria? Seria como a marmelada sem o queijo, e namoro sem beijo.

Essa estória de namoro e de beijo vindo daquela voz mansa e suave do açougueiro com o cutelo numa mão e o pincel atômico na outra foram a deixa para que eu me retirasse da carniceria. Vai saber onde aqueles versinhos poderiam terminar? Vai saber?

No terceiro lugar para onde fui recebi a mesma resposta, e par não sair de mãos vazias comprei pá e acém. Nos dias seguintes procurei em outros estabelecimentos e nada de poder comprar só o chã. Era sempre chã, patinho e lagarto! Chã, patinho e lagarto. E outra coisa curiosa: sempre anunciados e mencionados nessa mesma ordem. Nunca vi ninguém falar dessas carnes como patinho, chã e lagarto, ou chã, lagarto e patinho. Curioso e pitoresco, não é mesmo?

Lembrou de Emerson, Lake & Palmer, Gessinger, Licks & maltz, Peter, Paul & Mary, Giles, Giles & Fripp, Crosby, Stills & Nash, Earth, Wind & Fire, Blood, Sweat & Tears...